Indígenas são reprimidos com bombas de gás durante marcha do Acampamento Terra Livre em Brasília
Deputada Célia Xakriabá está entre os atingidos; entidades denunciam violência institucional e uso excessivo da força pela PM-DF e Polícia Legislativa.
Por Administrador
Publicado em 11/04/2025 16:16
Notícia

Durante a tradicional marcha do Acampamento Terra Livre (ATL), realizada nesta quinta-feira (10), em Brasília (DF), indígenas foram reprimidos com bombas de gás lançadas pela Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) e pela Polícia Legislativa do Congresso Nacional. Entre os atingidos estava a deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), que precisou de atendimento médico após sofrer irritação nos olhos e ser impedida de deixar o local, mesmo após se identificar como parlamentar.

De acordo com a assessoria da deputada, ela registrou uma queixa no Departamento de Polícia Legislativa da Câmara, denunciando violência política e de gênero. A nota também acusa as forças de segurança de impedirem o socorro imediato às vítimas e relata demora na atuação do Corpo de Bombeiros. A parlamentar deve se pronunciar em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (11).

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) repudiou a repressão e afirmou que a ação violenta faz parte de um contexto de violência institucional contra os povos indígenas. Em nota, a entidade lamentou o uso desproporcional de substâncias químicas contra um protesto pacífico que envolvia mulheres, crianças, idosos e lideranças tradicionais.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também criticou a repressão, destacando que os manifestantes portavam apenas instrumentos ritualísticos usados em cantos e rezas. Ainda não há confirmação oficial sobre o número de feridos, mas vários indígenas precisaram de atendimento médico. Após o confronto, os manifestantes retornaram ao acampamento.

Parlamentares como Erika Kokay (PT-DF) e Fábio Felix (Psol-DF) condenaram a ação nas redes sociais, classificando a repressão como "inadmissível" e "desproporcional". Vídeos publicados por eles mostram o momento em que os indígenas são dispersados com bombas enquanto entoavam cantos tradicionais.

Em resposta, a Câmara dos Deputados afirmou que cerca de mil indígenas ultrapassaram os gradis de segurança e invadiram o gramado do Congresso, o que teria motivado a ação com agentes químicos. A PM-DF alegou que a manifestação avançou além dos limites previamente acordados com os organizadores. A assessoria do Senado declarou que a resposta foi feita com meios não letais e que a ordem foi restabelecida.

Apesar das declarações oficiais, lideranças indígenas e entidades de apoio denunciam que a repressão foi premeditada. Em uma reunião ocorrida no dia anterior, um participante identificado como “iPhoneDeca” teria interrompido a fala de um advogado da Apib com a frase: “Deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”, o que, segundo os organizadores, antecipou a truculência do dia seguinte.

 

A repressão à marcha ocorre em meio a um dos maiores eventos de mobilização indígena do país, o ATL, que reúne milhares de representantes de povos originários para reivindicar direitos, demarcação de terras e políticas públicas.

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