Uma investigação conduzida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), em parceria com a Polícia Civil (PCDF), revelou indícios de um esquema bilionário de desvio de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) anos antes de o escândalo ganhar repercussão nacional. Documentos sigilosos, depoimentos e trabalho de campo apontaram que o esquema, centrado na Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais (Conafer), já operava ativamente desde 2020, desviando valores de milhares de aposentados e pensionistas.
Segundo o MPDFT, mesmo diante de suspeitas internas e evidências consistentes de fraudes, o INSS manteve os repasses mensais à Conafer. Um dos principais sinais de alerta foi o crescimento explosivo no número de filiações à entidade durante o auge da pandemia de Covid-19, quando o acesso presencial às agências estava limitado. Entre janeiro e agosto de 2020, o número de associados saltou de 42.810 para 279.520, elevando a arrecadação mensal da Conafer de R$ 6,6 milhões para mais de R$ 40 milhões.
Muitos beneficiários relataram descontos indevidos em seus contracheques, com valores que variavam entre R$ 45 e R$ 77 — quantias que comprometeram o sustento de idosos em situação de vulnerabilidade. Ao serem cobrados por provas de filiação, representantes da Conafer apresentaram documentos incompletos, sem assinaturas ou com dados suspeitos. Em diversos casos, não havia qualquer autorização formal dos segurados para os descontos realizados.
O caso, que agora envolve demissões em altos escalões da Previdência e ações policiais em diferentes estados, poderia ter sido evitado ou contido se os primeiros alertas tivessem sido levados a sério. A omissão institucional e a persistência nos repasses apesar dos indícios de fraude configuram um dos maiores escândalos da história recente do INSS, com impactos diretos sobre milhares de cidadãos. As investigações seguem em curso e novas revelações devem surgir nos próximos dias.
