Vacina brasileira contra covid avança para a fase final de estudos
SpiN-TEC, desenvolvida por UFMG e Funed, é considerada segura e pode ter menos efeitos colaterais que imunizante da Pfizer; previsão de disponibilidade é 2027
Por Administrador
Publicado em 09/10/2025 09:27
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A vacina brasileira SpiN-TEC (UFMG/Funed) se mostra segura e entra na Fase 3. O imunizante usa a estratégia inovadora de imunidade celular, sendo promissor contra variantes da covid. (Foto: Virgínia Muniz/CTVacinas).

O Brasil está a um passo de ter uma vacina contra a covid-19 totalmente nacional. O primeiro artigo científico sobre os resultados dos testes de segurança da vacina SpiN-TEC foi publicado, confirmando que o imunizante é seguro. Com isso, a vacina avança para a fase final de estudos clínicos. A expectativa é que ela possa estar disponível para a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) até o início de 2027.

 

A SpiN-TEC foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia de Vacinas (CT-Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Fundação Ezequiel Dias (Funed). O projeto contou com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), gerido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

 

Menos efeitos colaterais e estratégia inovadora

 

Segundo o pesquisador e coordenador do CT-Vacinas, Ricardo Gazzinelli, a SpiN-TEC demonstrou ser imunogênica – capaz de induzir resposta imune em humanos – e, nos testes conduzidos, apresentou até menos efeitos colaterais do que a vacina da norte-americana Pfizer.

 

"Concluímos que a vacina se mostrou imunogênica, ou seja, capaz de induzir a resposta imune em humano. O estudo de segurança foi ampliado e ela manteve esse perfil, na verdade foi até um pouco mais, induziu menos efeitos colaterais do que a vacina que nós usamos, que é da Pfizer”, afirmou o pesquisador.

 

A vacina brasileira adota uma estratégia inovadora, focada na imunidade celular. Essa abordagem prepara as células para que não sejam infectadas e, caso a infecção ocorra, capacita o sistema imunológico a destruir apenas as células atingidas. Ensaios em animais e dados preliminares em humanos indicaram que essa técnica pode ser mais eficaz contra variantes da covid-19.

 

Marcos para a ciência brasileira

 

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) investiu R$ 140 milhões no desenvolvimento da vacina, apoiando todas as etapas de testes, das fases pré-clínicas às clínicas 1, 2 e 3.

 

A fase 1 do estudo envolveu 36 voluntários e avaliou a segurança em diferentes dosagens. A fase 2 contou com 320 voluntários. Atualmente, os pesquisadores aguardam a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a fase 3, que deve envolver cerca de 5,3 mil voluntários de todas as regiões do Brasil.

 

Para Gazzinelli, o avanço da SpiN-TEC representa um marco para a ciência nacional. Ele destaca que o Brasil está desenvolvendo um “ecossistema de vacinas quase completo”, mas faltava a experiência de levar uma vacina totalmente concebida em universidades brasileiras para os ensaios clínicos.

 

“O que nós não temos é exatamente essa transposição da universidade para o ensaio clínico. [...] Os ensaios clínicos normalmente são com produtos vindo de fora. Ideias, vacinas idealizadas fora. E esse foi um exemplo de uma vacina idealizada no Brasil e levada para os ensaios clínicos”, explicou.

 

Essa iniciativa, segundo o pesquisador, agrega uma expertise valiosa para o país, não só na área de inovação tecnológica de vacinas, mas também para outros insumos da área de saúde.

 

Legado da pesquisa e outras frentes de trabalho

 

O CT-Vacinas é um centro de pesquisas em biotecnologia criado em 2016 e conta com cerca de 120 pesquisadores. O coordenador Ricardo Gazzinelli ressaltou que a pandemia evidenciou a falta de autonomia e soberania do Brasil para desenvolver vacinas.

 

“Um dos grandes legados desse programa além, obviamente, da vacina contra covid, é que aprendemos o caminho de levar uma vacina para a Anvisa e fazer o teste clínico”, disse.

 

Além da pesquisa contra a covid-19, o centro trabalha no desenvolvimento de imunizantes contra outras doenças, como malária, leishmaniose, chagas e monkeypox. O pesquisador reforça a importância da vacinação: “Nós sabemos que vacinas realmente protegem. Evitam, inclusive, a mortalidade. De novo, quanto mais gente vacinado, mais protegida está a população”.

 

Fonte: Agência Brasil

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