Uma publicação feita pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil nesta semana causou forte repercussão e abriu nova crise diplomática entre os dois países. O motivo foi uma tradução oficial nas redes sociais do órgão que se referia ao Supremo Tribunal Federal (STF) como “Supremo Tribunal de Moraes”, em alusão ao ministro Alexandre de Moraes. A ambiguidade da expressão gerou críticas por parecer sugerir que o ministro teria controle absoluto sobre a Corte, ecoando o discurso do ex-presidente Donald Trump.
A publicação endossava declarações do subsecretário do Departamento de Estado americano responsável pela Diplomacia Pública, Darren Beattie. Em mensagem publicada no X (antigo Twitter), Beattie justificou tarifas impostas pelo governo Trump a importações brasileiras como uma resposta a “ataques” do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da “Suprema Corte de Moraes” contra Jair Bolsonaro, a liberdade de expressão e o comércio com os EUA.
“Esses ataques são uma vergonha e estão muito aquém da dignidade das tradições democráticas do Brasil”, afirmou Beattie. A embaixada dos EUA no Brasil traduziu e publicou a fala em português, sem contextualizar que Alexandre de Moraes é um dos onze ministros do STF, e não a Corte em si. A nota foi interpretada por autoridades brasileiras como um ataque direto à institucionalidade do Judiciário do país.
Em resposta, o Itamaraty reagiu publicamente na terça-feira (15), classificando a manifestação como uma “nova intromissão indevida e inaceitável” nos assuntos internos do Brasil. A chancelaria brasileira afirmou que não aceitará manifestações estrangeiras que afrontem as instituições democráticas do país ou que tentem interferir em decisões judiciais soberanas.
O episódio amplia a tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos no contexto da campanha eleitoral americana, em que Donald Trump tem buscado reaproximação com a base bolsonarista e tentado atrair apoio internacional para sua retórica contra o Judiciário e governos de esquerda. A postura da embaixada americana gerou críticas de juristas, diplomatas e analistas políticos, que veem risco à neutralidade institucional e ao respeito mútuo entre os países.